segunda-feira, 19 de agosto de 2013

O DeFalla é o DeFalla cara!

Em 1987 eu tinha meus 13 anos, descobrindo o mundo, descobrindo a música, descobrindo a vida.
Lembro que eu já conhecia o Talking Heads, banda da qual eu amo até hoje, sempre com aquela mistura de pós punk com world music que caía como uma luva para o meu gosot musical. 
Lembro também da escola e do boom do rock gaúcho, eram todas bandas pré “catalogáveis”, digamos, cada uma com seu público. 
Havia o TNT, banda rock n’ roll que aflorava a adolescência. 
Os Engenheiros do Hawaii, banda da playboyzada. 
Havia os Cascavelletes que para quem sabe e viveu essa época e frequentou os seus shows, viu que eles eram os Beatles aqui do sul, lotando ginásios por onde passavam. 
E tinha também Os Replicantes, banda da turma do fundo da sala que colocou muita gente no “mal” caminho com a rebeldia a flor da pele. 
Mas junto a tudo isso existia o DeFalla...



Não me mande flores” já tocava nas rádios (em um tempo que as rádios tocavam bandas fora da mídia) e foi paixão a primeira ouvida!
Fui atrás da fita K7 deles, que um amigo meu tinha. Ela original e como estávamos na era do "modernismo" com o recém lançamento dos rádios duplo-deck eu iria copiar aquela fita, ah iria...

Ao ouvir ela por completo, meu mundo mudou de cor...



O álbum, que começa com “Ferida” entra com uma urgência total! Um contra baixo que preenche todo o ambiente. A voz é inglês ou português? E essa bateria? Quantos estão tocando, 3, 4? E o que é isso nessa guitarra? Nesse solo? It's been a hard day's night...
Eu ainda não entendia de instrumentos, ainda não conhecia quem eram esses caras... Que música é essa? E não eram só acordes, tinha gente falando, gente conversando, barulhos, ruidos....

Q qué icho” chega colagens, samplers, swing e experimentalismo em uma época em que eu nem sabia o que era isso. 
Será que eles gravaram certo isso? Não é um erro de gravação? 
“Se você acha que eu sou débil mental tudo bem!” 

Quando começou "Sodomia", lembro de pensar que eu nunca tinha ouvido aquela batida e aquele estilo de bateria, e aquele baixo que parece que vai derrubar tudo... Era tanto pra mim, tanto pra minha cabeça... Eu só queria ouvir.

"Papaparty"... Será que eu copiei essa fita certa? Scratchs... Guitarras noise, inglês, barulhos...

Tudo volta a ficar normal com “Não me mande flores”, afinal essa eu já conhecia e tem lá muitos méritos. 

Mas não demora muito pra que “aquela baterista” venha novamente. 

"Ideias primais" era atordoante, diferente....

Eu precisava agora virar aquela fita, o que mais vem por aí meu Deus do céu!...

Sobre amanhã” começa, uma das músicas mais lindas que já ouvi e ouço até hoje. É arte em cordas, vozes, nylon e noise.

Alguma Coisa” lembrava um pouco “Idéias primais”, com um looping de bateria atordoante.

Melô do Rust James” - Beat box? É isso? Scratchs... e imenda “Jo Jo”...
Eu não estou entendendo!!!...

I’m an Universe” começa numa batida hardcore que lembra os Replicantes, mas a essa altura eles já tinham perdido espaço no meu mundo.

Tinha um guarda na porta” era o casamento das batidas estranhas, com o baixo hipnótico e com a guitarra noise... 
A essa altura eu já estava abduzido. 

Se encaminhando ao final, começa alguns barulhos... 
Jason do filme sexta-feira 13 vai atacar? 
Não.... 1,2,3,4... "Trash Man" começava como se 85 baterias estivesse tocando ao memso tempo, um vocal ensandecido cantando inglês: “belive in my lies”... E as baterias surrando meus ouvidos.

Gandaia” acaba (ou começa?) com a confusão.

O que eu tinha acabado de ouvir? Eu não estava confuso, eu estava impactado, surpreso demais... 

Eu, aos 13 anos tinha descobrido à trilha sonora da minha vida.
Desse dia em diante eu comecei a colecionar recortes da Zero Hora, Correio do Povo, Revista Bizz... Com reportagens e fotos do DeFalla.
Eu desenhava o Edu porque pra mim ele era como se fosse um super-herói. Com óculos, cotoveleiras, joelheiras, capacetes, saias... Eles não eram desse planeta.

Muito tempo depois disso eu já conheci tantas e tantas coisas maravilhosas... Os Mutantes, Secos & Molhados, etc... Mas nada é igual, nada foi o que foi a experiência de conhecer o DeFalla.
Eu sempre guardo comigo a frase que Marcelo Fornazier falou ao Serginho Groissman durante uma apresentação da banda no Programa Livre: “O DeFalla é o DeFalla cara!


Ouvir DeFalla é ser freado atirado contra nenhuma direção!

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